A lágrima do oráculo - prelúdio de algo

Sabe aquele texto que postei há uns 3 dias? Virou isso aí...


A Lágrima do Oráculo


Mais uma tarde quente e monótona começava em São Paulo.

Num bairro de periferia, o ônibus fez a curva para descer em direção à COHAB, a rua era estreia apesar da mão dupla e o motorista foi obrigado a manejar o veículo cuidadosamente para não bater ou ficar preso nas esquinas. O veículo estava cheio, porém Jaqueline conseguira sentar num dos bancos altos, e de lá ficou observando a movimentação.

Seus olhos pousaram no Bar do Bigode, um dos muitos botequins do bairro, pequeno, uma de suas paredes era adornada com um horrível grafite de uma taça – com uma azeitona dentro – seus móveis eram cadeiras e mesas de ferro pintadas com logotipos de cerveja e pôsteres nas paredes exibindo mulheres com pouca roupa e copos com muita bebida, ele nunca ficava lotado. Entretanto, naquela tarde, havia um luxuoso carro preto estacionado à sua porta. O carro chamava a atenção por seu tamanho e seus vidros negros, era tão caro que compraria o bar e o prédio onde ficava instalado. Seu dono devia ser muito cuidadoso, pois estava impecavelmente limpo.

Encostado nele havia um rapaz magro, de terno cinza e óculos vermelhos, lendo jornal. A seus pés, um cachorro enorme.

O ônibus demorou a sair, Jaqueline notou que três pessoas estavam no bar, além de seu dono. Seu Bigode levava três garrafas de água à mesa de bilhar, onde dois homens de terno e uma moça ruiva conversavam. Quando olhou de novo para o motorista, o cachorro não estava mais com ele.

Antes de o ônibus sair, Jaqueline ouviu um rapaz dizer, bem próximo a seu ouvido: – Carro bonito, não? – ela se virou, o interlocutor era jovem, bonito, de cabelos negros e rebeldes, olhos azuis, uma cicatriz abaixo do olho direito e um sorriso malicioso. Foi como se o tempo parasse, por que Jaqueline conseguiu notar cada expressão daquele rapaz em poucos segundos. – Mas não é como eu. – ele completou.

Então, como se o tempo voltasse ao normal, desceu rapidamente do ônibus, Jaqueline não conseguiu tirá-lo da cabeça, virou-se diversas vezes e o viu se aproximar da banca que ficava ao lado do bar.

O ônibus partiu.


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