cronos

O assunto de hoje é mesmo o tempo e não o Todo-Poderoso do monte Olimpo, por isso mesmo, em letra minúscula. Tempo, mano velho. É, falta um tanto ainda, eu sei. Há aquelas pessoas que parecem saídas dos comerciais de margarina: suas vidas são tão certinhas que dá nos nervos. Não gosto de ser pessimista mas tem horas em que é preciso estourar a bolha das pessoas que vivem nas nuvens, achando que fazem o que querem, que querem o que fazem, que deus vai ajudar e que há males que vêm para o bem. Não tenho tempo pra isso. Pelo menos pra mim o chão é mais embaixo. E se você estiver se sentindo bem, não se preocupe: logo passa.

Ando feito burro de carga pelas ruas de São Paulo. Dependo da boa vontade dos outros para conseguir cumprir meus compromissos. Ônibus atrasa, metrô atrasa, motorista experiente bate o carro e para o trânsito, internet cai, o banco fica fora do ar, o jornal sai com erro, o telefone fica mudo, o leitor de código de barras não reconhece o produto que você escolheu, o médico erra, um jogador da seleção brasileira erra o saque. Por que eu tenho de ser perfeito? E tem mais: muito me alegra saber que Fernando Pessoa abandonou o curso de letras, que Luís Fernando Veríssimo não tem curso superior, que Van Gogh cometeu suicídio e que um frágil pássaro pode derrubar uma gigantesca aeronave, ainda que seu corpo pequenino se desintegre numa fração de segundos ao entrar pela turbina do monstro alado.

Vinicius de Moraes já dizia que o bom cronista, ao fim de seu terceiro mês trabalhando no jornal, já estaria gastando metade do seu ordenado com despesas de logística. E se para você é difícil imaginar o tempo em que era preciso pagar um táxi apenas para levar ao escritório umas poucas folhas manuscritas, não, brava gente, não existia e-mail, celular e muito menos twitter, não se preocupe, em breve você já estará lembrando como era bom ouvir músicas em cd lendo o encarte e em como nossa antiga seleção de 2002 era sem dúvida a melhor que já existiu.

Se o poeta pudesse, daria tudo só para ver a expressão de alívio do editor ao ver que ele afinal tinha mandado o que prometera. Com isso, vê sua página pronta com a mesma ternura de um pai quando a filha mais velha volta para casa. Mil perdões aos queridos leitores do blog pelo atraso deste post.

Dica: um bom exercício de memória é emprestar dinheiro para as pessoas.

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